Por: Sérgio Ribeiro
De acordo com a OMT – Organização Mundial do Turismo – enquanto a atividade turística teve um crescimento médio internacional de 4,9% em 2006, a mesma apresentou retração de 6,3% durante o mesmo período no Brasil.
O cenário negativo desenhado pelos números divulgados pela Organização para o país tem como base problemas estruturais cujas fontes estão diretamente ligadas à precariedade de sua malha aérea, principalmente após a quebra das três principais companhias aéreas nacionais desde 2001: a Varig, a Vasp e a Transbrasil.
A falta de planejamento e de investimentos de base, aliados à ausência de políticas públicas dinâmicas para o setor, levaram-no inicialmente a um crescimento desordenado na década de 90 e posteriormente a uma crise sem precedentes a partir do ano 2000, o que acabou gerando distorções operacionais que hoje são o motivo de uma série de traumas causados aos usuários deste serviço de importância estratégica para o desenvolvimento da nação.
À reboque da supracitada falta de estrutura da malha aérea, vem uma série de prejuízos em âmbitos econômico e social, afetando diretamente a capacidade competitiva turística do país no mercado externo.
O Brasil possui 3819 municípios com potencial turístico, distribuídos através de 200 regiões turísticas, segundo dados do Ministério do Turismo.
Apesar do evidente potencial e vocação espontânea do país, favorecido por uma série de questões geográficas, climáticas e culturais, a atividade turística no Brasil esbarra no histórico descaso de políticas públicas pouco eficazes para o setor, principalmente no que tange o fomento à infra-estrutura, gerando conseqüências diretas para seu desempenho.
Ainda de acordo com a OMT, do volume total de 842 milhões de turistas internacionais, apenas 5 milhões se destinaram ao Brasil no ano passado, o que em termos estatísticos representa apenas 0,6% da demanda real.
Tais números colocam o país na acanhada 37ª posição do ranking global de destinos turísticos, atrás de nações como Tunísia, África do Sul, Arábia Saudita, Marrocos, Bulgária, Singapura e Coréia do Sul. Se considerarmos o ingresso de receitas através do turismo externo, a participação brasileira no mercado se mostra ainda mais frágil. Ocupando a 42ª posição do ranking internacional com a entrada de US$ 3,5 bilhões, o Brasil posiciona-se atrás de Nova Zelândia, Indonésia e Líbano.
A fraca atuação do país no panorama turístico internacional pode ser justificada principalmente pela ausência de ligações aéreas diretas ou inadequadas de suas principais regiões turísticas aos maiores centros emissores externos.
As distorções existentes na malha aérea brasileira, acentuada pela concentração da oferta de assentos em determinadas regiões geográficas causando gargalos, levam o país a perder demanda, investimentos e divisas para mercados concorrentes diretos como o Caribe, por exemplo.
Dentro desta realidade, a proposta de reestruturação da malha aérea nacional se faz necessária e urgente em função dos seguintes fatores a serem observados:
· Reduzir o tempo de deslocamento do turista estrangeiro de forma a otimizar o produto turístico nacional.
· Posicionar o Brasil como destino turístico mais competitivo no exterior.
· Estimular e desenvolver tanto produtos e destinos já existentes, como também viabilizar os que se encontram ou em estágio de estruturação ou com algum potencial de exploração.
· Captar novos investimentos, tanto em infra-estrutura básica urbana quanto em infra-estrutura turística, com a finalidade de gerar mais empregos e promover melhor redistribuição de renda com base nos princípios do desenvolvimento turístico sustentável em âmbito local e regional.
Soma-se a tais necessidades específicas, a dimensão continental do país, cujas distâncias internas e posição geográfica em relação aos principais mercados emissores de demanda turística como a Europa, os Estados Unidos e a Ásia, fazem do transporte aéreo um elemento vital para o desenvolvimento da cadeia produtiva turística interna.
Não somente com o objetivo de estimular demanda turística externa ou mesmo formar um mercado turístico interno para o país, investir em melhorias no segmento aéreo é fundamental sob o ponto de vista da integração nacional e do desenvolvimento da própria economia do mercado de aviação em si.
Hoje, o setor aéreo é o segundo que mais gera empregos dentro do turismo, sendo superado apenas pela área de alimentos e bebidas, estando à frente da própria hotelaria que historicamente sempre ocupou posição de liderança.
Dados da OACI (Organização da Aviação Civil Internacional), apontam que para cada US$ 100 investidos no transporte aéreo estimulam investimentos extras na ordem de US$ 325 em atividades econômicas diretas ou indiretas, cada 100 empregos gerados pelas companhias aéreas, criam outros 610 empregos em atividades relacionadas, e 30 postos de trabalho são criados para cada mil turistas que visitam o país no período de um ano. A escolha do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de Futebol da FIFA em 2014 nos leva a uma reflexão ainda mais profunda sobre o tema, uma vez que a provável distribuição regional das cidades-sede implicará no uso extensivo do transporte aéreo para o deslocamento das delegações das 32 seleções participantes, imprensa e torcedores. Atualmente, o país não oferece malha eficiente de transportes em outros setores potencialmente concorrentes como o hidroviário ou o ferroviário.
Projetando a situação atual para daqui a sete anos, e tomando como base os investimentos realizados no setor de transportes em escala nacional nos últimos 20 anos, o cenário torna-se preocupante, considerando um evento da magnitude de uma Copa da FIFA.
Mesmo quando o torneio maior do futebol foi realizado na Alemanha em 2006, um país que ocupa uma posição de referência em termos de desenvolvimento tecnológico na área de transportes, investimentos na ordem de 5 bilhões de Euros foram feitos pelo país no setor de forma a modernizá-lo e torná-lo mais confortável para os torcedores. Apesar da elevada cifra, com planejamento e infra-estrutura invejável, os alemães conseguiram recuperar aproximadamente a metade do valor investido durante os 30 dias do torneio.
Sem levar em consideração os graves problemas específicos que os passageiros vêm enfrentando há mais de um ano por razões amplamente reconhecidas, há décadas o mercado da aviação civil no Brasil não se encontrava tão concentrado nas mãos de tão poucas empresas, e cidades como o Rio de Janeiro jamais foram tão pouco servidas.
Planejar a malha aérea brasileira a curto e médio prazo, significa pensar estrategicamente o desenvolvimento sustentável da nação com o objetivo de trazer mais investimentos e recursos.
A organização da Copa 2014 será um desafio para todos os brasileiros, e melhorias na infra-estrutura serão necessárias durante os próximos anos para o sucesso da competição .
Especialmente no setor aéreo, investir na reestruturação do sistema do país será fundamental, como sugere o slogan da Copa,“for the good of the game”.